“Viola, forria, amor, dinheiro não”

O capitalismo não produz apenas o celular, a roupa de marca, o automóvel do ano, mas também o consumidor para o o celular, para a roupa de marca e para o automóvel do ano. Naturalmente, o desejo é produtivo, capaz de criar & inventar. Todavia, quando capturado pelo capital o desejo passa a sentir falta e ele precisa ser satisfeito. Então ao invés de criar, por exemplo, um mundo melhor, passa-se a acreditar que a felicidade é o último celular, a máquina fotográfica tal, o relógio y, o tênis x, a cerveja importada z.

A ação prática para um mundo/vida/cidade melhor é deixada de lado. E o sonho torna-se um produto qualquer. Por isso, é tão comum as pessoas dizerem: “meu sonho é ter/comprar um/uma________________ (preencha com um produto qualquer). O capitalismo produz os produtos e os consumidores para estes produtos. Somos 24h assediados pela máquina publicitária com suas imagens ilusórias, com seus futuros abstratos. Deixar de ser mais um consumidor do mundo e tornar-se um produtor(a) aqui e agora de um novo mundo é um desafio e tanto que dinheiro nenhum pode comprar.


OXI

Imerso na velocidade maquínica deste tempo, intuo o acontecimento por de trás de um pequeno sintoma: de repente, o logaritmo sugere “A Odisseia”. A máquina segue a tendência & esta é a re-criação – ou mesmo a destruição – da própria máquina que organiza o funcionamento desta. O passado – sobreposto ao presente – não se repete, mas ao tocá-lo diferencia este & a si próprio, abrindo a precisa fissura para a travessia da criação, para a passagem de virtualidades radicalmente democráticas que proliferam sob a concretude aparente e aparentemente imutável do capitalismo. A superficialidade sólida deste oculta a corrosão lenta de suas estruturas & a vida que aí resiste pronta para, dos escombros da modernidade, apresentar-se como a invenção imanente de se viver de modos diferentes deste modo único que (sobre-) vivemos.