O prédio anti-mendigo

Na sociedade capitalista, o importante é estar empregado para continuar na roda viva. Ser feliz no trabalho é um detalhe…

Agora imagine morar no local de trabalho? Se você faz parte dos insatisfeitos com seu atual trabalho certamente tal hipótese é um verdadeiro pesadelo. Certo? Não em Curitiba onde a mais nova tendência do mercado imobiliário é o HUB (Home Urban Business). Chique, não?

O HUB, ou simplesmente, trabalho e moradia – e quem sabe um pouco de diversão conjugados –  é vendido como sonho em Curitiba. E caro.

A mais nova tendência imobiliária da cidade mais bonita do Brasil é o Home Urban Business ou simplesmente HUB.

De acordo com o folheto de divulgação que está sendo distribuído nos sinaleiros da cidade, o empreendimento “neo-clássico contemporâneo” visa revitalizar o centro da cidade.

Fredric Jameson explica que “enquanto a arquitetura do alto modernismo (Corbusier e Wright) procurava se diferenciar radicalmente do tecido urbano degradado no qual se inseria (…), os edifícios pós-modernos, ao contrário, celebram sua inserção no tecido heterogêneo da paisagem do corredor comercial, dos motéis e das cadeias de fast-food (…)”.

Este, portanto, não é o caso do HUB em questão que ao inserir-se “no tecido heterogêneo da paisagem” do centro o faz para produzir uma distinção de classe, uma falsa distinção de classe entre o público alvo: jovens viciados em trabalho.

Assim, o HUB é a cara de Curitiba (e por que não do Brasil!?) que, mesmo sem ter aderido totalmente ao modernismo, apresenta sintomas pós-modernos, mas no fundo é a mesma cidade que jamais foi moderna.

“Serão duas torres: uma comercial de 19 andares voltada para a avenida mais famosa da cidade: a XV de  novembro e um residencial de 30 andares com 10 apartamentos por andar voltada para a Amintas de Barros, ligando os dois espaços uma galeria comercial que permitirá às pessoas atravessarem de um lado para o outro”, diz empolgado um dos mil corretores.

“A maquete é 100% fiel ao empreendimento. No lado comercial haverá espaço para um coffe break e vc pode usar o espaço para suas suas reuniões”, explica o jovem corretor de terno e gel para este jornalista (?) que não tem onde cair morto.

“Nos finais de semana, se você optar por adquirir também um apartamento, poderá desfrutar de uma completa área de lazer. “Área de lazer no estilo americano”, frisa e emenda:

“Como você sabe no centro da cidade existem muitos mendigos e gente pobre … Então, para que essas pessoas nos finais de semana não venham adormecer em frente ao prédio, instalaremos luzes de led que com a mínima presença são ativadas”, explica com um olhar pós-moderno (de led).

– Ah sim … os mendigos. Vocês pensaram até nos mendigos.

– Você deixou seu nome e e-mail na entrada? Você não quer ver a tabela de preços?

– Estou meio atrasado…

– Ok. Eu mandarei a  tabela de preços para você. Aproveite essa oportunidade. 50% já foi vendido, ou melhor, vendido não, reservado, porque ainda não pode ser vendido.  É uma ótima oportunidade. Os barões da Universidade do Paraná já reservaram diversos apês. É uma forma de investimento, não é?

– Barões da universidade?

– “Sim, todos eles”, responde acendendo o led azul de seu olho direito. Ah! Teremos um grande coquetel assim que todos os apês estiverem reservados. Haverá uma grande pista de dança aqui. Nós que somos jovens, não é?  E haverá comes e bebes.

– Posso trazer meus amigos mendigos?