signos do ciúme

A paixão violenta o hábito. Entra sem pedir licença. É um tempo perdido, um tempo outro, encontrado num instante de recusa do tempo presente que nos captura. O coelho da paixão nos arrasta para o subterrâneo.

Este tempo fora do tempo altera o ritmo dos órgãos e da matéria, subverte os hábitos, delira a rotina.

Quero saber tudo à respeito do outro. Quero saber seu presente, quero conhecer seu passado. Quero decifrar. Quero viajar no seu mundo.

Quero.

Paixão.

Quero.

Então, o ciúme.

O ciúme é inevitável. É inevitável o ciúme. Por não conseguirmos adentrar esse mundo? Por temermos que outros saibam mais sobre o outro?

Desesperados como na festa em que não podemos entrar e que o objeto de nosso desejo lá está. E se lhe desejarem mais do que desejo? E se te interessarem mais do que lhe interesso?

Aprofundo. Preciso aprender suas emissões, seus signos, seus movimentos.

O ciúme não é uma doença. Ele faz parte do amor. Existe um investimento libidinal no ciúme.

Chego até a pensar que há uma certa alegria no ciúme. “Que alegria! A traição que imaginava nunca aconteceu”.

Segui teus passos, suas comunicações, tuas músicas, teus livros, cheirei tua roupa, observei como olhava os outros.

Mesmo que insista nunca conseguirei decifrar completamente o outro.

A paixão se apaga.

Lentamente.

A pessoa não era, afinal, tudo aquilo. Minhas investigações comprovam isso. Apaixonei não pela pessoa então desvelada, mas pelo que que dela emanava em outro tempo (um olhar, um fio de cabelo, uma peça de roupa, um sorriso, um movimento, uma textura, um gosto, um mundo, uma história).

Um tempo que novamente se perde.

Um desapontamento.