Isso te interessa

Preciso encontrar tempo para escrever sobre a peça “Isso te interessa?”, adaptação da Companhia Brasileira de Teatro do texto “Bon, Saint-Cloud” da dramaturga francesa Noëlle Renaude em cartaz no “Teatro Novelas Curitibanas”.

É pretensioso demais afirmar que a peça literalmente desnuda a existência de uma família do subúrbio parisiense, mas que pode ser a nossa?

Quantos segundos terei que encontrar em meio ao tempo para digitar que é necessário ter olhos desnudos para ver?

Fundamental foi ter encontrado uma brecha entre as horas e a garoa fina e fria que cortou este domingo de primavera e feito dela um espaço para o meu corpo entre os corpos privilegiados que estiveram na Rua Carlos Cavalcantti, 1222.

Agora preciso de tempo para escrever isso, por ex.

Realmente, só o tempo, este ser inexorável, possibilitará um julgamento mais crítico, mas – eu sei –  ele é mais veloz do que a informação e se eu não contar agora que a peça dirigida por Marcio Abreu, com Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini fica em cartaz até 15 de outubro, de quinta a domingo, à partir das 20h, pode ser tarde demais e as cortinas negras serem fechadas e restarem somente lembranças para informar, enquanto o público deseja novidade, ação, movimento, velocidade.

Se der tempo vou incluir essa frase que ouvi nos corredores do teatro após o espetáculo:  “Nunca estar vestido foi tão estranho”.

“Isso te interessa?” te interessou?

“Ao jornalista interessou”, pensou o jornalista.

Ainda roubarei uma hora para fazer a seguinte reflexão: uma existência pode durar menos que um cigarro e as memórias em torno dela durarem um pouco mais, mas só um pouco mais: como fumaça.

“As horas são iguais, os dias diferentes, principalmente, alguns deles”, pensou novamente o jornalista.

Prometo que escrevo algo assim que o relógio desacelerar, porque tempo é vida e 43 minutos contêm, pelo menos, o inimaginável que somente o teatro é capaz de tornar perfeitamente sensível, ao nível da derme.

A plateia aplaudiu de pé por mais segundos que o tradicional em Curitiba.

Portanto, chegue bem antes da hora.


Haru Matsuri (para Yukako Nagamura)

Bons amigos são as flores de cerejeira
que nascem no lugar da densa nuvem
do cinza inverno que o vento dissipou